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Ex-funcionária de Itaipu é recontratada 46 anos após ser demitida na ditadura militar por suspeita de terrorismo

Sonia Castanheira tem 77 anos e descobriu apenas em 2012 motivo da demissão após Lei da Anistia tornar públicos documentos da época. Ela provou a inocência e nesta segunda (10) recebeu crachá e foi recepcionada em ato simbólico e reparador na usina.

Por Jornal Portal do Paraná em 10/07/2023 às 13:23:31

A ex-funcionária de Itaipu Sonia Lúcia Castanheira foi reintegrada ao quadro de funcionários da hidroelétrica como secretária e tradutora nesta segunda-feira (10) 46 anos após ser demitida durante o período da ditadura militar, em 1977, sem saber o motivo.

    Ela soube da causa do desligamento apenas em 2012, quando a Lei da Anistia tornou públicos documentos da época até então mantidos em sigilo. Ela foi apontada, juntamente com o então marido, Dario Anibal Galindo, que também trabalhou na binacional, como terroristas.

    Em um dos relatórios da agência central do Serviço Nacional de Informação (SNI) da época, eles foram retratados como elementos de "infiltração comunista".

    Ao ter acesso aos documentos, Sônia contou que viu a oportunidade de reescrever a própria história e deixar claro que nunca se envolveu com atos criminosos.

    A secretaria retirada do trabalho por suspeitas nunca confirmadas não tem mais a saúde da década de 1970. Há anos ela trata de um câncer e por isso, a reintegração nesta segunda foi simbólica e reparadora. Sônia fez a foto para o crachá da empresa e os exames admissionais.

    "É um dia especial porque me sinto de volta e sinto que fiz uma coisa que deveria fazer. Pela memória, pela história e para que esses erros que cometeram comigo, não se cometam mais.[...] Fiz o que é certo, isso para mim é histórico", afirmou Sônia.

    Há cinco anos, o g1 mostrou que o Tribunal Regional do Trabalho do Paraná determinou que Sônia fosse reintegrada ao quadro de funcionários da usina de Itaipu, mas a empresa recorreu. Porém, novas decisões confirmaram a reintegração e agora não cabem mais recursos.

    "O papel da Itaipu no jurídico foi reconhecer que o processo estava terminado e que precisávamos apenas de uma formalidade para reconhecer o direito. Iss está feito agora e ela retorna a empresa que jamais deveria ter saído", afirmou o diretor jurídico de Itaipu Luiz Fernando Delazari.
    " A readmissão da Sônia é para mostrar o quanto defendemos a democracia, a liberdade e o respeito aos direitos humanos. Para nós, é uma marca muito importante", destacou o diretor geral da margem brasileira da usina, Enio Verri.


    A demissão nos anos 70

    Ela soube o motivo da demissão em 2012. Nos documentos tornados públicos pela Lei da Anistia, em um comunicado de 20 de maio de 1977 endereçado ao general João Figueiredo, ministro-chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI), consta a demissão dela e do então marido.

    "Face às conclusões dos dados biográficos [de Dario e Sônia], procedidos pela Assessoria de Segurança desta Entidade, com relação aos antecedentes dos nominados, foram os mesmos demitidos de seus cargos em 17 de novembro de 1976 e 15 de fevereiro de 1977".

    Em um dos relatórios da agência central do SNI, Sônia é considerada um risco à segurança nacional e um elemento de "infiltração comunista", já que ela havia sido detida em São Paulo em 1966 por participar de uma passeata estudantil e era esposa de Dario.

    "Estava em uma festa quando recebi as 400 páginas de citações com o meu nome. Passei muito mal quando li toda aquela mentira. Não podia deixar que aquelas acusações ficassem como estavam. Eu amava o meu trabalho. Amava a vida que levava. E tudo acabou depois que fui demitida", contou ela em entrevista ao g1 em 2017. (Fonte:G1)


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